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Cultivando

Introdução

  Na Quinta praticamos agricultura em modo de produção biológico. Este modo tem como objectivo a obtenção de alimentos de qualidade superior, recorrendo a técnicas que garantam a sustentabilidade e promovam a preservação do solo, do meio ambiente e da biodiversidade. Adicionalmente, privilegia-se a utilização de recursos locais e evita-se o recurso a produtos químicos de síntese (adubos, herbicidas, pesticidas, etc) e a adubos facilmente solúveis.

Falsas Sementeiras

  Em “Setubro” inicia-se o novo ano agrícola. Como tal, há que preparar o terreno para as novas sementeiras. Uma das principais preocupações é o controlo de plantas infestantes que poderão mais tarde competir por recursos (água, luz, nutrientes) com as plantas que pretendemos cultivar.

Uma das estratégias que costuma ser usada no modo de produção biológico, e que permite evitar a utilização de herbicidas, é o método das falsas sementeira. Este método deve ser posto em prática pelo menos 8 a 10 dias antes de serem feitas as verdadeiras sementeiras.

  Mesmo que a terra pareça limpa, tem sempre muitas sementes de plantas infestantes. Quando começam a cair as primeiras chuvas, estas serão as primeiras sementes a germinar, o que faz com que o solo fique rapidamente coberto por plantas indesejáveis.

  O método das falsas sementeiras tira partido deste aspecto e consiste, primeiramente, na preparação da cama (terreno) para a semente. Em agricultura biológica, de modo a perturbar-se o mínimo possível a estrutura e ecossistema do solo, recomenda-se que esta preparação seja feita de forma leve e superficial. Em áreas pequenas esta preparação pode ser feita manualmente com recurso a um ancinho; em áreas maiores, com recurso a alfaias como a grade ou o escarificador, ou, em último recurso a fresa. Após esta preparação do terreno, este deve ser regado como de uma verdadeira sementeira se tratasse, o que vai promover a germinação das sementes já presentes no solo.

  Quando as novas plantas (infestantes) começarem a aparecer (e antes de estas darem semente), deve-se proceder à sua remoção, o que pode ser feito de forma manual, com uma enxada, ou através de uma passagem muito superficial com a grade, escarificador ou fresa, o que simultaneamente vai permitir a incorporação do material vegetal no solo, onde será decomposto, indo mais tarde funcionar como adubo orgânico.

  A repetição deste processo vai levar a uma diminuição progressiva das plantas infestantes.

Adubação

  Terminadas as falsas sementeiras e após remoção das plantas infestantes, foi feita a adubação da terra para as sementeiras e o plantio, com o intuito de aumentar a matéria orgânica do solo e a sua fertilidade. A matéria orgânica aplicada no solo vai actuar a nível da estrutura do solo, da manutenção e desenvolvimento da vida microbiana do solo, e do fornecimento de nutrientes.

  O solo, para ser fértil, tem que fornecer suporte à planta, pelo que deve ser estável, homogéneo, móvel e profundo. Para além disso, deve ter capacidade para responder às necessidades nutritivas e fisiológicas das plantas. Tem, também, que garantir a humidade necessária à planta, permitindo o escoamento dos excedentes, e deve deixar-se atravessar pelo ar e pelo calor. Adicionalmente, deve ter capacidade de retenção de nutrientes e conter os diversos elementos nutritivos em quantidades equilibradas, e alojar e permitir a actividade de microrganismos úteis, que vão promover a utilização de nutrientes orgânicos e minerais pelas plantas, através das raízes.

  A matéria orgânica do solo é constituída por restos de material vegetal e de outros organismos, em diferentes graus de decomposição, substâncias em estado coloidal (húmus) e numerosos e variados microrganismos. É o húmus que é normalmente usado para a restituição de matéria orgânica ao solo (adubação orgânica).

  A adição de húmus ao solo apresenta diversas vantagens: 1) estabiliza a estrutura do solo, o que permite, por exemplo, reduzir a erosão pela água, uma vez que promove uma maior agregação das partículas do solo e aumenta a resistência dos agregados; 2) torna os solos argilosos mais fofos e dá mais corpo aos solos arenosos; 3) aumenta a permeabilidade hídrica e gasosa dos solos; 4) aumenta a capacidade de retenção de água; e 5) facilita a drenagem e as mobilizações do solo. Adicionalmente, o húmus aumenta a estabilidade do pH do solo (capacidade tampão), bem como a sua capacidade de retenção e de veiculação de nutrientes.

 

  Em modo de produção biológico, utilizam-se apenas adubos orgânicos. Existem várias alternativas. Pode ser usado composto (húmus) de origem animal (de estrume de cavalo ou de galinha), composto de minhoca (um produto excelente), ou composto produzido localmente a partir de material vegetal recolhido na Quinta e material doméstico e que pode incluir também material animal. Neste último caso, deve ter-se muita atenção às condições de compostagem, especialmente às temperaturas atingidas durante o processo, por forma a que a esterilização do estrume animal fique garantida (mas falaremos disto mais para a frente!). Outra alternativa, é a adubação verde ou sideração.

Fertilidade do Solo

  O modo de produção biológico tem como base o solo e a sua fertilidade, bem como o ecossistema envolvente e respectiva biodiversidade. Neste contexto, o solo é entendido como um sistema vivo, com uma grande diversidade de organismos, que estão em interacção constante com as plantas e as componentes físicas (argila, limo e areia) e químicas (nutrientes solúveis) do solo. O solo tem que ser alimentado e, por sua vez, irá alimentar as plantas.

  Para se obter uma boa fertilidade há que trabalhar 3 aspectos: 1) as propriedades físicas (boa estrutura, arejamento, humidade e facilidade de trabalho), através da promoção da actividade dos organismos do solo e das raízes na estruturação do solo e da utilização correcta de máquinas e alfaias; 2) as propriedades químicas (boa fixação dos nutrientes e boa troca desses elementos entre o solo e a planta – boa “capacidade de troca”); e 3) boas propriedades biológicas (intensa actividade dos organismos vivos do solo em termos de reciclagem de nutrientes e alimentação das plantas).

  O húmus, de que já falámos, é um importante factor que influencia a fertilidade do solo, por modulação das suas características físicas, químicas e biológicas. No que respeita às propriedades físicas, pode salientar-se a relação cor-aquecimento: a cor escura do solo deve-se à presença do húmus e favorece o aquecimento do solo (um solo escuro pode absorver até 80% da radiação solar, enquanto que um solo claro apenas absorverá cerca de 30%). Para além da capacidade de funcionar como um tampão, evitando grandes variações no pH do solo, o húmus aumenta a capacidade de troca catiónica (potássio, cálcio, magnésio, sódio, amónio, etc) entre o solo e a planta, e constitui um reservatório importante de nutrientes, particularmente de azoto e fósforo. No que respeita às propriedades biológicas, o húmus vai funcionar como alimento para os organismos do solo, o que leva a um aumento das suas populações. Este aspecto é importante porque um solo biologicamente activo é uma boa fonte de vitaminas (B6, B12, ácido pantoténico, riboflavina, biotina, etc), factores de crescimento vegetais (auxinas, giberelinas, ácidos orgânicos) e até antibióticos (estreptomicina, penicilina, terramicina, entre outros). Adicionalmente, em situações de falta de oxigénio, o húmus facilita a respiração da raíz, uma vez que melhora a estrutura do solo.

  Tal como já referido, em modo de produção biológico, a fertilização do solo é feita recorrendo principalmente a fertilizantes orgânicos (vegetais e/ou animais) e a minerais de acção lenta (fosfato natural, sulfato de potássio e magnésio, calcário). Como não são usados os adubos solúveis e de acção rápida utilizados na agricultura convencional, há que promover um solo vivo, com grande actividade biológica, capaz de alimentar as plantas.

  Os principais aspectos da fertilização em modo de produção biológico incluem:

  1) aplicações regulares de matéria orgânica, que deve ser incorporada no solo apenas superficialmente. Idealmente, toda esta matéria orgânica deve ser proveniente da reciclagem de materiais da própria exploração agrícola (com trituração e eventual compostagem desses materiais, ou empalhamento do solo), mas pode recorrer-se também a adubos orgânicos comerciais, aplicados superficialmente, com ou sem incorporação.

  2) aplicação de correctivos e adubos minerais em formas insolúveis, ou pouco solúveis, que podem ser pré-misturados nas camas dos animais ou no composto, ou aplicados directamente no solo (à superfície ou com incorporação ligeira);

  3) um trabalho do solo sem reviramento e apenas no período de sazão, para romper os calos da lavoura, eliminar o excesso de água e arejar as camadas mais profundas. Um dos objectivos deste trabalho mais superficial do solo é evitar a inversão de camadas do solo, o que iria levar à morte de muitos dos organismos que o habitam, por exposição ao ar de organismos anaeróbicos e enterramento dos organismos aeróbicos.

  4) rotação de culturas favorável à sua sanidade e, em horticultura, complementar a rotação com a consociação de espécies diferentes, em linhas alternadas.

  A fertilização em agricultura biológica deve reger-se por 5 grandes princípios: 1) evitar as perdas de elementos solúveis na água; 2) não utilizar produtos obtidos por via química; 3) ter em conta os vegetais e animais que vivem no solo; 4) lutar contra a erosão pela conservação do solo, um recurso não renovável a curto prazo; e 5) utilizar plantas leguminosas como fonte de azoto. Como iremos ver, a adubação  verde é um processo que nos vai permitir garantir vários destes princípios.

Adubação verde ou Sideração: o que é e como fazer

  A sideração é um processo de fertilização do solo que consiste no enterramento de plantas herbáceas. As plantas mais usadas neste processo são as leguminosas, de forma isolada ou em consociação com espécies de outras famílias. As plantas usadas na adubação verde são semeadas propositadamente para o efeito e tomam a designação de adubo verde.

  Em culturas anuais (ex: hortícolas), o adubo verde é um precedente cultural da cultura principal. No nosso clima, a adubação verde é feita normalmente no Outono/Inverno, pois nesta altura não é necessária rega. No entanto, também se pode fazer adubação verde na Primavera/Verão.

  Para o sucesso da adubação verde, que se vai traduzir na produção da cultura seguinte, é preciso saber quando e como semear e incorporar o adubo verde, e, ainda, se é necessário fazer uma adubação prévia. Adubar um adubo verde pode parecer estranho, mas pode ser necessário no caso de solos muito pobres em fósforo e cálcio. As fertilizações de fundo destinadas à cultura principal devem ser feitas antes ou durante a sementeira do adubo verde. Os nutrientes serão depois restituídos, de forma gradual, durante o processo de decomposição do adubo verde. Regra geral, as leguminosas não necessitam de fertilização.

  A sementeira do adubo verde requer trabalho do solo, que vai depender das espécies escolhidas e do tamanho da semente: a profundidade da sementeira é directamente proporcional ao tamanho da semente (ex: 0.5cm para o trevo branco; 2-4cm para a ervilha e a ervilhaca). Se o terreno estiver compactado, convém fazer uma subsolagem ou escarificação prévia, para abrir caminho para as futuras raízes. É também importante ter em atenção a taxa de humidade do solo, que tem que ser suficiente para a germinação.

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                                       Trevo branco                                                            Ervilhaca

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  O passo seguinte da sideração é a incorporação do adubo verde no solo. No caso do adubo verde para adubação da cultura seguinte, o corte e a incorporação das plantas devem ser feitos no final da floração. Isto porque é no final da floração que termina a fixação biológica de azoto pela leguminosa. Se a planta for cortada mais tarde, parte do azoto fixado e localizado nas folhas, caules e raízes, migra e vai-se concentrar nas sementes, deixando a planta mais pobre neste elemento e com menor capacidade para adubar a cultura seguinte.

  O corte das plantas pode ser feito com uma capinadeira (corta-matos) de correntes ou de facas, ou com uma gadanheira. As plantas cortadas devem ficar a secar sobre o terreno, durante 2 a 3 dias, antes de se proceder ao seu enterramento, superficial (até 10cm), preferencialmente com escarificador ou grade de discos. O enterramento superficial é importante porque os organismos decompositores vão precisar de muito oxigénio para uma decomposição adequada da matéria verde. Se se enterrar uma grande quantidade de massa vegetal em profundidade, vai haver fermentação anaeróbica com asfixia.

  Alternativamente, o enterramento pode não ser feito. De facto, se a erva for deixada sobre o solo, o efeito pode ser ainda melhor, em particular no que respeita à protecção contra a erosão. Neste caso, a sementeira, ou plantação, da cultura principal é feita directamente.

  Este tipo de adubação verde é particularmente apropriada para plantas hortícolas. Já no caso de culturas permanentes, como vinhas, pomares e olivais, é mais adequado o enrelvamento, uma vez que este processo assegura uma melhor conservação do solo, e é uma prática mais eficaz na prevenção da erosão e no aumento da matéria orgânica do solo. Mas deste processo falaremos mais tarde.

Adubação verde: benefícios e espécies a utilizar

  A sideração, ou adubação verde, é um processo que traz vários benefícios agrícolas. Um dos principais benefícios é a promoção da fixação biológica de azoto no solo. Este processo é muito importante porque é uma das poucas formas existentes na natureza para transferir azoto do ar para o solo. A fixação de azoto é levada a cabo por microrganismos que se fixam nas raízes das plantas e que estabelecem uma relação de simbiose com as plantas. Um microrganismo importante em termos agrícolas é o rizóbio, que se associa a plantas leguminosas e transforma o azoto gasoso em amónio. A relação estabelecida entre o rizóbio e a planta é vantajosa para ambas as partes (relação de mutualismo), já que a bactéria fixa o azoto e transfere-o para a planta e, em troca, recebe da planta os açúcares necessários à sua alimentação.

  Portanto, tirando partido deste processo, vamos conseguir evitar fazer adubações azotadas, nomeadamente com produtos de síntese. Desta forma, um dos objectivos do modo de produção biológico será o de promover a fixação de azoto pelo rizóbio.

  Para além da fixação de azoto no solo, a adubação verde vai contribuir para um aumento do nível de nutrientes no solo também por outros processos, incluindo a extracção de nutrientes retidos nas partículas de solo (não só pela acção mecânica das raízes, mas também através de acidificação local por secreções produzidas pelas raízes), solubilização de nutrientes pouco solúveis, aceleração da formação de húmus estável e redução da lixiviação de nutrientes (já que as raízes conseguem recuperar nutrientes em profundidade).

  Adicionalmente, após enterramento, o adubo verde vai ser decomposto, aumentando a quantidade de matéria orgânica no solo.

  Para além disso, os adubos verdes vão melhorar a estrutura do solo, tornando-o também mais estável, que por acção directa das suas raízes (raízes pivotantes - fissuração de solos compactos; raízes fasciculadas - agregação do solo), quer através das secreções radiculares e do trabalho de microrganismos (que vão promover a granulação do solo), ou da formação de compostos pré-húmicos que agregam as partículas do solo.

  A adubação verde contribui ainda para um aumento da actividade biológica do solo, estimulando a vida microbiana, bem como a proliferação da microfauna e de minhocas.

  Um outro aspecto importante da sideração é a protecção contra a erosão do solo e contra o dessecamento provocado pelo sol e pelo vento.

Indirectamente, a adubação verde é uma mais valia em produções agrícolas porque: 1) vai facilitar o combate a plantas infestantes (efeito de ensombramento ou de competição); 2) alguns adubos verdes podem ser usados como forragens para animais (ex: luzernas), enquanto que outros podem contribuir para a produção de mel (ex: colza, trigo sarraceno) servir de alimento ou de abrigo para animais auxiliares (por exemplo, a ervilhaca atrai todo o tipo insectos; o trevo branco atrai himenópteros); e 3) pode ajudar no combate a nemátodos (ex: mostarda branca, cravos da índia).

  A escolha das espécies e/ou variedades a usar vai depender de vários factores, como o tipo de solo, o tipo de cultura, o clima, a época do ano, a disponibilidade de solo, o tipo de cultura que pretendemos fazer, os problemas fitossanitários que possam existir e a disponibilidade de semente (bem como o seu custo). As principais espécies de leguminosas usadas na adubação verde de Outono/Inverno no nosso país são as luzernas, o anafe, os chícharos, a ervilha forrageira, as ervilhacas, as favas, o fenacho, os melilotos, os tremoços e as tremocilhas. Já no caso das gramíneas e crucíferas, podemos referir a aveia, o centeio, a cevada, a colza, a mostarda-branca, o rábano forrageiro e o triticale.

  A mistura de diferentes sementes, fazendo uma consociação, é vantajosa em relação a um adubo verde de uma só espécie, até porque vai aumentar a biodiversidade, quer do solo, quer da parte aérea da planta. Em alguns casos, a consociação é quase obrigatória, pois uma das espécies (geralmente a leguminosa) precisa de outra (geralmente a gramínea) que lhe sirva de suporte para crescer (ex: ervilhaca e aveia).

Portanto, a adubação verde é um processo ecológico, não poluente, que nos vai permitir aumentar a fertilidade do solo, evitar a erosão do solo e, ao mesmo tempo, reduzir a emissão de poluentes (por exemplo, ao evitarmos as tradicionais queimadas).

Luzerna rugosa                                                                                  Colza forrageira

Enrelvamento

  Tal como mencionado no post anterior, no caso de culturas permanentes, como a vinha, o pomar, ou o olival, é preferível fazer o enrelvamento das entrelinhas à adubação verde. Isto porque o enrelvamento permite uma melhor conservação do solo, sendo mais eficaz no combate à erosão e contribuindo também para um aumento da matéria orgânica do solo. Adicionalmente, promove um aumento da fauna auxiliar com a consequente limitação natural de pragas. A adubação verde tradicional, com sementeira no Outono/Inverno e enterramento na Primavera, apenas se deve fazer quando o risco de erosão é baixo.

  O enrelvamento pode ser espontâneo ou semeado, dependendo da existência de espécies favoráveis e, em particular, de leguminosas pratenses em 50% da cobertura do solo, ou mais.

  Relativamente às espécies aconselhadas, deve optar-se por espécies adaptadas ao clima mediterrânico de sequeiro, interessando ter espécies e variedades com um ciclo de vida curto, que cheguem à fase de maturação da semente antes que se esgotem as reservas de água do solo. Para o enrelvamento dá-se preferência a leguminosas pratenses de ciclo anual (como as luzernas, o sanfeno, a serradela ou os trevos) e às gramíneas pratenses anuais ou vivazes (por exemplo, os azevéns, o bromos, as festucas ou o panasco).

  O enrelvamento necessita de alguma manutenção. Pode ser preciso alguma adubação e é sempre necessário proceder-se ao corte da erva, pelo menos duas vezes por ano: um corte antes da floração (em geral, no final do inverno), e outro após a formação da semente. Idealmente, o corte deve ser feito com corta-matos (capinadeira) ou com gadanheira. O material de corte deve ser deixado sobre o terreno, constituindo uma fonte de matéria orgânica.

Gestão de Ervas

  Embora, tradicionalmente, as ervas infestantes tenham sido sempre consideradas como um aspecto negativo e, como tal, tenham constituído um obstáculo à decisão de conversão à agricultura biológica, como já vimos, têm também inúmeros aspectos positivos, como: 1) a protecção do solo de erosão; 2) a melhoria da estrutura do solo; 3) a promoção da actividade biológica e biodiversidade do solo; 4) o aumento da capacidade de retenção de água do solo; 5) a promoção da biodiversidade geral da exploração, nomeadamente através da atracção de aves e insectos auxilares; 6) a sua utilização na alimentação animal; 7) a extracção de nutrientes em profundidade e a sua restituição à superfície; 8) a restituição de nutrientes e matéria orgânica ao solo através da sua incorporação no solo (adubação verde); 9) promoção, em alguns casos, de uma microclima mais favorável às culturas; 10) o fornecimento de informação relativa à natureza, estrutura e composição do solo; e 11) a produção de substâncias químicas com efeitos positivos nas culturas instaladas (por exemplo, as saudades – Agrostemma githago – aumentam a quantidade de glúten do trigo) ou efeitos negativos sobre infestantes (por exemplo, a inibição da germinação de sementes).

  As infestantes são uma resposta natural às interferências do homem no solo, sendo que as infestantes anuais aparecem sobretudo em resposta a mobilizações excessivas do solo, enquanto que as vivazes são mais frequentes em solos não mobilizados. De facto, quando um solo deixa de ser mobilizado, observa-se uma mudança do coberto vegetal, com diminuição das espécies anuais e aumento das vivazes. Com o passar do tempo, estas tornam-se dominantes, seguindo-se o aparecimento de pequenas árvores típicas das florestas circundantes ou um prado natural permanente. Esta é a ordem natural de sucessão de espécies e a forma como a natureza restaura a estabilidade do solo e promove o aumento da biodiversidade. Quando instalamos culturas anuais, vamos perturbar esta ordem natural de sucessão das espécies e daí os problemas com as infestantes.

  As infestantes podem, de facto, interferir com as culturas anuais, nomeadamente através de competição  por água, luz e nutrientes e por transmissão de pragas e doenças, e podem causar problemas técnicos ao agricultor na altura das colheitas.

  Como tal, é importante fazer-se uma gestão adequada das infestantes.

Gestão de Ervas – Práticas Preventivas

  A gestão de ervas infestantes pode ser feita quer através de práticas preventivas, quer de intervenção directa. Nesta gestão, é importante ter em conta princípios básicos de ecologia e o conhecimento disponível sobre os ciclos de vida e características não só das infestantes, mas das próprias espécies cultivadas; e adoptar técnicas de cultivo que permitam minimizar os aspectos negativos das ervas infestantes e aumentar a capacidade competitiva das espécies de cultivo.

  Assim, numa primeira aproximação, devem ser identificadas as espécies mais problemáticas, bem como os potenciais danos que estas possam provocar, e adoptar as práticas preventivas mais adequadas. Estas podem incluir, por exemplo, a realização de rotações mais longas em que se utilizam culturas sufocantes ou dominantes, como os cereais, ou espécies (ex: centeio e batata-doce) e consociações (aveia-ervilhaca, tremoceiro-milho) fortemente competitivas, com espécies que podem adicionalmente ter capacidade para libertar exsudados radiculares que inibem o crescimento de algumas infestantes, como é o caso do catassol, dos bredos, da juncinha, entre outros.

  Outra alternativa é a inclusão, na rotação de culturas, de prado permanente, durante dois ou três anos, o que permitirá controlar o crescimento de algumas infestantes mais difíceis de controlar. Adicionalmente, podem utilizar-se plantas de porte prostrado (ex: aboboreiras, melancias), em substituição de espécies de porte erecto, uma vez que estas vão limitar a passagem de luz, o que, por sua vez, vai limitar o desenvolvimento das infestantes. Pode também organizar-se a sucessão de culturas de forma a tirar-se partido de espécies que deixam o solo limpo de ervas (ex: plantar cenoura depois da batata). O empalhamento (revestimento do solo com palha ou outros desperdícios vegetais) também limita o desenvolvimento de ervas através da limitação da passagem de luz. A utilização de telas de cobertura do solo tem um efeito semelhante e também deve ser considerada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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  Outras medidas preventivas incluem, entre outras: 1) o cultivo intercalar com plantas de crescimento rápido como forma de ocupação rápida do solo (ex: cultura da alface intercalada com crucíferas, cebola ou alho); 2) a sementeira de leguminosas rasteiras (ex: lótus e trevo) nas entrelinhas de culturas de hortícolas, que podem limitar o desenvolvimento de infestantes mais competitivas e, mais tarde, ser usadas como adubo verde; 3) a plantação de plântulas de viveiro como forma de aumentar a vantagem de desenvolvimento sobre as ervas; 4) a alteração do coberto vegetal nas extremidades da exploração, ou nos taludes, substituindo espécies de controlo difícil por espécies benéficas, melíferas e que atraem auxiliares; 5) a falsa sementeira; e 6) a eliminação de sementes através da compostagem dos resíduos da exploração e do arranque das plantas antes da formação de sementes.

Gestão de Ervas – Medidas de Intervenção

   Na gestão de ervas, também se pode fazer uma intervenção directa com recurso a várias ferramentas e alfaias, como enxadas, sachos, barras de corte encabadas ou apoiadas em roda, motocultivadores, mondadores térmicos, multifresas, sachadores de estrelas, vibrocultores, grades de dentes flexíveis ou sachadores de escovas. No entanto, estas medidas só devem ser equacionadas depois de terem sido tentadas as diversas medidas preventivas. A escolha do equipamento a utilizar vai depender de vários factores, incluindo a dimensão da exploração, o tipo de solo, a inclinação do terreno, o comprimento das parcelas, a existência de problemas de encharcamento, os sistemas de rega utilizados e o custo da operação.

   No caso de parcelas de pequena dimensão (inferiores a 5 hectares), deve usar-se um trator de baixa potência, motocultivadores com fresa de largura regulável, ou moto-enxadas para trabalhar as entrelinhas. Em terrenos inclinados, é difícil efectuar uma sacha sem acabar por arrancar ou cortar algumas plantas de interesse. Em faixas curtas, alfaias como o sachador de estrelas ou a grade de bicos são pouco eficientes, pois não se conseguem atingir as velocidades de trabalho. Adicionalmente, as manobras nos extremos fazem com que se inutilizem alguns metros quadrados de terreno. Nestas situações, é preferível usar a multifresa, que também será a alfaia mais adequada para usar em terrenos mais argilosos, que encrostem com frequência. A utilização de mondadores térmicos deve ser encarada como último recurso, uma vez que tem uma acção negativa sobre os auxiliares do solo, mas é, por vezes, o mais indicado e funcional (por exemplo, na cebola em pós-emergência e na cenoura em pré-emergência).

Rentrée de Primavera

   Com a chegada da Primavera, inicia-se o segundo período agrícola do ano. Portanto, há que preparar os terrenos para as novas sementeiras e plantações. Cá na Quinta, começámos por cortar a erva crescida nas zonas de cultivo, que foi, depois de uns dias a secar sobre o solo, incorporada no solo, funcionando como adubo verde. Nessa altura, aproveitámos para incorporar também um fertilizante orgânico: composto de estrume de cavalo. O solo apenas deve ser revirado o suficinete para permitir a incorporação da matéria orgânica. Não deve haver inversão das camadas do solo, nem destruição da estrutura do solo.

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   Antes de se iniciarem as sementeiras e plantações, deve-se analisar o solo e decidir se este precisa, ou não, de fertilizante ou algum correctivo. Se quiserem adoptar uma postura mais profissional, podem enviar amostras de solo para análise e tomar as vossas decisões com base nos resultados obtidos. As decisões seguintes, sobretudo no que respeita à necessidade de incorporação de matéria orgânica, já poderão ser tomadas com base nas culturas anteriores: respectivo desgaste do solo e necessidade de reposição de nutrientes. Tudo isto é quantificável.

   Ou podem decidir a “olhómetro”, por análise visual do solo. Não é uma ciência exacta, mas pode dar algumas indicações. Por exemplo, a presença de minhocas é sempre um bom sinal. A cor e a estrutura do solo também são bons indicadores.

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   Relativamente a fertilizantes, há vários que são permitidos em agricultura biológica, nomeadamente estrumes e compostos obtidos de estrumes, chorumes (excrementos líquidos de animais), produtos de compostagem ou fermentação anaeróbica de resíduos domésticos ou materiais vegetais, turfa (só para horticultura), composto de culturas de cogumelos, lombricomposto (de minhoca), guano, variados subprodutos animais e vegetais, algas e derivados e madeiras não tratadas quimicamente (serradura, aparas, composto de casca de árvore, cinzas), entre outros. Para uma listagem completa podem consultar o Regulamento (CE) nº889/2008 – anexo I.

   Depois de incorporarem os fertilizantes, é lançar mãos à obra e começar a semear e a plantar!

   Se, na altura das plantações, estiverem temperaturas muito elevadas e o vosso terreno tiver uma boa exposição solar, devem proteger as jovens plantas (e plântulas) do sol. Para tal, podem usar ramos de árvores ou arbustos colocadas sobre as zonas plantadas.

Workshop de Agricultura Biológica - 29 de Abril!!!!
Práticas de Protecção das Plantas

   Em agricultura biológica, a protecção das culturas deve começar antes mesmo de se proceder à sementeira ou à plantação. É importante prevenir e aplicar medidas que não envolvam o recurso a pesticidas. Alternativamente, procura-se fomentar de várias formas a limitação natural, nomeadamente através da atracção de organismos auxiliares ou da prática de variadas medidas culturais, de que são exemplo as rotações e consociações, os repelentes e as armadilhas, e as barreiras de protecção. Pode também recorrer-se a luta biológica, microbiológica e luta biotécnica.

 

   A rotação das culturas tem uma grande importância na agricultura biológica, sobretudo por razões de fertilidade e de sanidade das culturas. Uma rotação implica a divisão do terreno em folhas/parcelas de cultura (afolhamento), em número igual ao dos anos da rotação, de forma a que, em cada ano, todas as culturas da rotação sejam cultivadas. As principais vantagens da rotação incluem um aumento da fertilidade do solo e melhoria da fertilização das culturas; a eliminação ou diminuição do risco de pragas, doenças e ervas infestantes; e um aumento da biodiversidade. No entanto, esta prática obriga a um maior planeamento das operações culturais, que deve ser feito de forma antecipada.

   No planeamento das rotações devem-se ter em conta os resíduos e nutrientes deixados no solo pela cultura anterior (que serão usados pela cultura seguinte), bem como as exigências e necessidades das culturas que se seguem na rotação. Por exemplo, as culturas cujos órgãos que são colhidos são flores (bróculo, couve-flor) ou frutos (melão, tomate, feijão-verde) deixam maior quantidade de resíduos orgânicos e nutrientes no solo, em comparação com culturas em que são colhidas as folhas. Numa rotação, pode colocar-se na cabeça de rotação (1º ano) uma espécie melhoradora do solo (ex: leguminosas), que será seguida por uma espécie de elevada exigência nutricional (ex: acelga, alho, beterraba), que, por sua vez, será seguida de uma espécie de exigência nutricional média (ex: curgete, alho-francês), que será seguida de uma espécie pouco exigente (ex: melão, alface, cerefólio). Outro factor que se pode considerar no planeamento das rotações é a profundidade radicular, uma vez que plantas com raízes de diferentes comprimentos irão extrair nutrientes em diferentes níveis do solo. Adicionalmente, há que considerar a sensibilidade a doenças e pragas: de uma forma geral, uma doença ou praga afecta diferentes plantas de uma mesma família botânica e não de famílias diferentes, pelo que se deverá sempre intercalar as culturas, em vez de se optar pela instalação de áreas maiores de monocultura. As diferentes culturas devem também ser semeadas/plantadas em linhas compridas e não em mancha, uma vez que as manchas têm um maior efeito de atracção de pragas.

   As consociações são sistemas de policultura em que duas ou mais espécies de plantas estão suficientemente próximas para que haja uma competição ou complementação entre elas. As vantagens de uma consociação positiva são variadas: melhor combate às pragas (insectos e ácaros), seja por repelência, seja pelo favorecimento dos auxiliares (ex: consociação de tomateiros e cravos túnicos), redução de ervas infestantes por ensombramento e/ou alelopatia, e melhor utilização dos nutrientes do solo com possibilidade de maior produtividade (ex: consociação de alface com cebola, cenoura ou alho-francês).

   Outras medidas culturais directas incluem a eliminação de focos de doenças e pragas (ex: retirar rebentos com piolho) ou a recolha de fruta bichada ou com mosca; medidas repelentes de pragas (ex: “canhões” sonoros para o afastamento de aves; plantar trovisco nas hortas e batatais para repelir as toupeiras), instalação de armadilhas (ex: armadilhas para ratos junto ao compostor; armadilhas para a mosca em laranjeiras) e a instalação de barreiras de protecção (ex: uso de barreiras de cinza ou serrim para protecção do caracol e da lesma; utilização de redes para evitar que as aves comam a fruta), entre outras.

As Armadilhas para a Mosca da Fruta

   Em época de laranjas e com as temperaturas a subir, é altura de começar a proteger a nossa fruta das moscas. Para tal, costumamos usar armadilhas caseiras, que preparamos com garrafas de água vazias (de qualquer tamanho; as pequenas chegam perfeitamente). É muito simples e muito eficaz.

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   É só pegar na garrafa (de preferência devem manter a tampa), fazer um buraco abaixo do gargalo, colocar dentro uma colher de sopa de mel (ou melaço) e depois adicionar um pouco de água (deve ficar com uma altura de água de cerca de 4-5cm). Depois, é só misturar e pendurar a garrafa na laranjeira. Vão ver que rapidamente se começa a encher de moscas...

  É importante que a garrafa seja transparente (devem retirar os rótulos) e que o preparado de mel fique com uma cor amarelada/alaranjada para atrair a mosca da fruta.

Limitação Natural de Pragas e Doenças: as Zonas de Compensação

   Em agricultura biológica, como já vimos, a limitação de pragas e doenças pode ser conseguida de variadas formas. A forma de limitação mais importante é a limitação natural, por acção de um verdadeiro exército de organismos auxiliares, o que se consegue trabalhando para que o agro-ecossistema esteja saudável e equilibrado. Este numeroso exército é constituído por insectos, ácaros, fungos, bactérias, protistas, vírus, nemátodos, aves, mamíferos, répteis e anfíbios. De facto, embora o papel dos vertebrados nem sempre seja reconhecido ou valorizado, estes animais são parte integrante dos ecossistemas agrícolas e, devido ao seu papel nas cadeias alimentares, contribuem de forma significativa para a limitação de algumas pragas e, indirectamente, de algumas doenças das culturas. Como exemplo de algumas relações significativas, temos a relação predador/presa entre aves de rapina/roedores, aves insectívoras/insectos praga, pequenos carnívoros/roedores, morcegos/insectos praga, aves/caracóis e mamíferos/caracóis.

   Para fomentar a biodiversidade funcional e promover a atracção e manutenção de auxiliares nas produções agrícolas, deve estabelecer-se e manter-se uma rede de infraestruturas ecológicas na área que circunda a zona de cultivo. Devemos criar aquilo que se designa de “zonas de compensação”, que são, basicamente, comunidades vegetais que vão proporcionar habitat e fontes de alimento para os organismos auxiliares. Esta rede de infraestruturas ecológicas deve englobar, sempre que possível, três elementos básicos: 1) habitats permanentes, de maior dimensão, que podem corresponder a prados e pastagens pouco intensivas, áreas de floresta, e pomares e olivais tradicionais; 2) habitats temporários de menor dimensão, que podem ser constituídos por pequenos bosques ou manchas de arbustos e árvores, amontoados de pedras ou de lenha, e charcos; e 3) corredores ecológicos, que têm como objectivos favorecer a dispersão dos animais entre os diferentes habitats e incluem estruturas relativamente lineares, como sebes, faixas de vegetação espontânea, caminhos rurais e linhas de água.

   As infraestruturas ecológicas devem ocupar pelo menos 5% da área total de exploração, embora a superfície óptima para assegurar uma biodiversidade adequada esteja estimada em 15% da área total. No entanto, a contribuição real destas infraestruturas para a promoção da biodiversidade depende também da sua qualidade ecológica, distribuição e ligações com outras infraestruturas existentes nas áreas envolventes da exploração.

   A gestão do habitat possibilita, então, o fomento da limitação natural de pragas e doenças, através do aumento da quantidade e variedade dos animais auxiliares, ao disponibilizar, no espaço e no tempo, os recursos necessários à sua actuação. A promoção da maior diversidade possível de auxiliares é importante porque vai assegurar que, ao longo do ciclo cultural, estejam sempre presentes inimigos naturais das diferentes pragas, de forma a que haja uma resposta pronta. Uma vez que diferentes auxiliares apresentam necessidades distintas, é necessário que as infraestruturas ecológicas também sejam diversificadas.

Culturas do mês... Fevereiro

Uma cultura boa para o período de Inverno, mas que é transversal a todo o ano, é a couve e familiares (Brassicaceae): os diferentes tipos de couve, as nabiças e os nabos, a couve-flor e os brócolos...

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As couves são uma excelente fonte de vitaminas (A, B1, B9 e C), anti-oxidantes e fibras. Têm também a vantagem poderem ser cultivadas em vaso (não há desculpas para não fazerem uma horta nas vossas varandas...) e de serem de cultivo muito fácil (não há muito por onde falhar...). O facto de haver uma grande diversidade de variedades de couve faz com que seja possível plantar e colher couves todo o ano.

 

As couves gostam de solos frescos, com boa profundidade, húmidos e ricos em nutrientes. Nesta altura do ano praticamente não precisam de ser regadas, mas no Verão gostam de água em abundância. Como tal, nessa altura, devem ser regadas regularmente, mas sem encharcar, e tendo o cuidado de não molhar as folhas.

 

No que respeita a consociações favoráveis, salientam-se a abóbora, o aipo, a alface (mas atenção que a alface, tal como a couve, é uma espécie esgotadora de nutrientes...), a batata, a beterraba, os canónigos, as chagas, ervas aromáticas, feijão, flores perfumadas e o tomate. Não devem ser consociadas com o alho e o alho-francês, nem com a cebola, funcho, morango ou rabanete.

 

As principais pragas são a borboleta branca da couve e o pulgão.

Em finais de Fevereiro, início de Março, podem começar a plantar cebolas. As cebolas também são muito fáceis de plantar e requerem muito poucos cuidados. Uma vez colhidas e bem secas, conservam-se facilmente.

 

As cebolas são muito ricas em potássio, fósforo e cálcio.

 

É mais fácil plantar cebolas do que semear. No que respeita à plantação, o principal aspecto a ter em conta é o espaçamento dos bolbos entre si e entre as linhas de plantação. Os bolbilhos são plantados com a raiz para baixo e a ponta para cima e devem ser empurrados, de modo a que entrem na terra e o topo da cebola fique enterrado cerca de um centímetro abaixo do solo. Quando a rama começar a ficar amarelada, é altura de colher! Se as colherem num dia de sol, deixem-nas a secar sobre o solo antes de as levarem para dentro de casa.

 

As cebolas podem ser consociadas com a alface, a beterraba, a cenoura, morango e tomate, entre outras. Não devem ser consociadas com a batata, a couve, a ervilha e o feijão.

 

A principal praga é a mosca da cebola.

E podem começar a preparar a batata para cultivo. É nesta altura que se devem adquirir tubérculos que ainda não tenham germinado. Estes devem ser colocados num local seco e luminoso, abrigado das geadas, com os olhos (os pontos marcados na casca, de onde sairão os rebentos) virados para cima. Para organizar os tubérculos podem usar caixas de ovos de cartão.

 

A plantação propriamente dita só deve ser feita quando já não houver risco de geadas.

 

Entretanto, podem também iniciar a sementeira de uma série de outras hortícolas, quer em locar definitivo, quer em viveiro:

Sementeira em local definitivo:

Alface, alho francês, beterraba, cebola, cenoura, chicória, couves, espinafres, nabos e nabiças, rabanete, repolho e salsa

Sementeira em viveiro:

Alface, alho francês, chicória, couve galega, pimento e tomate

Culturas do mês... Abril

Em Abril, as coisas começam a aquecer e temos que meter as mãos à obra! Há já uma série de coisas que se podem plantar, como é o caso das alfaces e das beterrabas.

 

As alfaces dividem-se em dois grupos: as repolhudas e as de folhas soltas. O cultivo de qualquer das variedades disponíveis é muito simples e versátil, uma vez que é uma espécie que se adapta perfeitamente ao cultivo urbano, em vasos e sacos de cultivo. Como é uma espécie que também se adapta às diferentes condições climatéricas, o escalonamento das sementeiras e plantações permite-nos ter alfaces ao longo de todo o ano. Em zonas mais frias, no Inverno, poderá ser preciso colocá-las num local mais abrigado ou protegê-las das geadas, usando túneis ou estufas.

 

As alfaces crescem em solos que conservem bem a humidade e preferem locais de meia-sombra, uma vez que a luminosidade excessiva faz com que cresçam demasiado em altura e espiguem demasiado cedo.

Para se ter alfaces todo o ano, devem ser semeadas pequenas quantidades de cada vez, mas de forma regular. As alfaces requerem regas regulares durante os meses mais quentes, mas não exigem grande adubação (com excepção de terrenos muito pobres em nutrientes).

 

Os principais inimigos das alfaces são os caracóis e as lesmas. Para evitar estes visitantes, podem ser criadas barreiras com elementos naturais, como a gravilha, ou plantações de alfazema. Podem ser cultivadas com praticamente qualquer outra hortícola ou aromática, com excepção da salsa.

 

As alfaces são ricas em minerais, oligo-elementos e fibras e têm a vantagem de ser pouco calóricas.

A beterraba é outra hortícola de grande rendimento e de fácil cultivo. Tem também a vantagem de poder ser aproveitada na totalidade: tanto as folhas como os tubérculos são comestíveis.

 

A beterraba prefere solos profundos, soltos, leves e neutros. Gosta de solos ricos em nutrientes, pelo que, antes de cultivar se deve adicionar composto ou estrume à terra. É uma hortícola que resiste bem à seca, mas ficará mais tenra se se mantiver o solo húmido.

 

Se as sementeiras e as plantações forem escalonadas, é possível ter beterrabas praticamente durante todo o ano.

 

As beterrabas associam-se bem ao aipo, alface, cebola, coentros, couve e pastinaga. Não devem ser associadas ao alho-francês, aos espargos, ao feijão e ao tomate.

 

As principais pragas são a áltica, o oídio e o pulgão.

 

As beterrabas são ricas em fibras, vitaminas, minerais e anti-oxidantes. As suas folhas são particularmente ricas em vitamina A.

Sementeira em local definitivo:

Abóbora, alface, beterraba,  cenoura, chicória, ervilha espinafres, feijão, melancia, melão, nabos e nabiças, pepino, pimento e rabanete.

Sementeira em viveiro:

Abóbora, alface, chicória,  couves,  melão, pepino e pimento.

Culturas do mês... Maio

Agora que o tempo aqueceu, as chuvas diminuiram e os solos já não estão muito pesados, é tempo de instalar a horta! já plantámos os tomateiros, as alfaces, as beterrabas, as acelgas, as cebolas, o alho-francês e a batata-doce e estamos a semear as leguminosas e as cucurbitáceas (abóboras, curgetes, pepinos...).

 

As curgetes são muito fáceis de cultivar e são também bastante rentáveis. Podem adquirir pés para plantação, mas o mais fácil é semear! Neste caso, devem depositar duas ou três sementes por cova, directamente na terra. Depois de as sementes germinarem, devem escolher a plântula mais viçosa e remover ou transplantar as outras, de forma a que cada pé fique com cerca de 1m2 disponível para crescer. Depois, é só ir regando (que as curgetes gostam muito de água...) e vê-las crescer!

Podem associar com aipo, alface, couve, espargo, feijão e manjericão, mas evitar cultivar juntamente com o rabanete. As principais pragas são o caracol e o oídio.

 

As curgetes devem ser colhidas quando ainda são jovens e pequenas, pois nesta altura são mais saborosas e ainda não têm praticamente sementes.

 

As curgetes têm a vantagem de serem pouco calóricas e ricas em sais minerais, vitaminas e fibras. E podem ser cozinhadas de milhentas maneiras diferentes!

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O cultivo das abóboras é também muito fácil! Em terrenos férteis, qualquer semente que caia no chão vai dar origem a uma bela planta!

 

As abóboras semeiam-se directamente na terra, em meados de Maio ou Junho, quando a terra já está bem quente. Devem ser semeadas em covas (duas a três sementes por cova), em intervalos de cerca de 1m. Depois, é só ir regando e vê-las crescer.

 

As abóboras devem ser colhidas maduras (quando o pedúnculo seca), pois assim conservam-se todo o ano. Para evitar o seu apodrecimento ainda na planta, devido ao contacto com o solo, pode colocar-se uma tábua ou ardósia debaixo de cada abóbora.

 

As abóboras podem ser consociadas com as capuchinhas, girassóis e qualquer legume. Só não gostam muito da companhia do rabanete. A principal praga é o oídio.

 

As abóboras são ricas em sais minerais, particularmente em potássio, vitaminas (sobretudo vitamina A) e fibras. Há uma enorme variedade de abóbora e também um sem fim de utilizações!...

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Sementeira em local definitivo:

Abóbora, alface, alho francês, beterraba, cebola, cenoura, chicória, couves, curgetes, espinafres, feijão, melancia, melão, nabos e nabiças, rabanete

Sementeira em viveiro:

Abóbora, alface, alho francês, beterraba, couves, curgetes,  melão, pepino

Os espinafres podem começar a ser semeados a partir de Fevereiro, mas esta é uma boa altura para o plantar. Os espinafres são uma excelente fonte de pró-vitamina A, vitamina C e sais minerais.

 

Os espinafres crescem bastante depressa, pelo que, rapidamente, estará pronto a ser colhido. Colher regularmente as folhas favorece o crescimento e a ramificação dos espinafres. Os espinafres são bastante resistentes ao frio, mas sensíveis à secura e a temperaturas muito elevadas. Por isso, as culturas de Verão devem ser feitas em zonas frescas e sombreadas. A terra nunca deve secar completamente entre as regas, sobretudo nos dias mais quentes. Outro cuidado a ter é adubar a terra com composto ou estrume antes da plantação, já que se trata de um vegetal esgotador. Os espinafres podem ser associados a aipo, alface, couve, fava, morango, nabo e rabanete. Deve evitar-se a associação com acelgas e beterrabas.

As ervas daninhas também são nossas amigas!...

Embora as ervas infestantes ponham alguns problemas em termos agrícolas devido à sua competição com as nossas culturas por água, luz e nutrientes, e também por poderem ser hospedeiras de pragas e doenças, têm também variados aspectos benéficos, alguns dos quais já aqui mencionados. Um destes aspectos benéficos é darem-nos indicações sobre o estado de fertilidade do nosso solo.

 

De facto, embora a avaliação da fertilidade do solo seja feita, tradicionalmente, através da análise físico-química do solo, em agricultura biológica recomenda-se a análise da composição florística! Uma dada espécie de planta será indicadora da qualidade do solo da área em que habita. A abundância e o porte de determinadas espécies também podem ser usados como indicadores.

 

Por exemplo, se tivermos um terreno rico em dentes-de-leão (Taraxacum officinale), sabemos que temos um terreno pronto a receber a maior parte dos legumes, e, portanto, um bom terreno para a nossa horta. Isto porque as minhocas gostam da terra em redor desta planta, já que o dente-de-leão, ao decompor-se, dá origem a húmus neutro. 

taraxacum_edited.jpg

Já o saramago (Raphanus raphanistrum) é um bom indicador da disponibilidade de potássio. Por sua vez, o quenopódio (Chenopodium album) abunda em solos ricos em matéria orgânica, enquanto que a ésula-redonda (Euphorbia peplus), o lâmio-roxo (Lamium purpureum), a sempre-noiva (Polygonum aviculare), a erva-moira (Solanum nigrum) e a urtiga (Uritica spp), entre outros, indicam abundância de azoto. 

Raphanus_raphanistrum
Chenopodium_album
Euphorbia_peplus
Lamium_purpureum
Polygonum_aviculare
Solanum_nigrum

Pelo contrário, a presença de leguminosas (ex: trevos e luzernas) é indicadora de um solo pobre em azoto. Se começarem a aparecer tasneirinhas (Senecio vulgaris), temos um solo esgotado e com fraco crescimento. Há que intervir!

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Medicago_arabica_edited.jpg

As plantas infestantes também nos podem indicar qual o tipo do solo. Nos solos argilosos, compactos, tendem a aparecer, por exemplo, a língua-de-ovelha (Plantago lanceolata), a erva pessegueira (Polygonum persicaria), o dente-de-leão e as labaças (ex: Rumex crispus). Nos solos argilosos a franco argilosos e alcalinos podemos encontrar a erva-bonita (Epilobium tetragonum) e as luzernas (Medicago spp).

DSC_9665_edited.jpg
Epilobium_tetragonum.jpg
Rumex_crispus.jpg
Polygonum_persicaria.jpg

Em solos calcários predominam os coentros bravos (Bifora radians), a pimpinela (Sanguisorba minor), a mostarda dos campos (Sinapis arvensis) e a tossilagem (Tussilago farfara). Em solos ácidos já iremos encontrar a língua-de-ovelha, a azedinha (Rumex acetosella), a esparguta (Spergula arvensis) ou violetas

Sinapis_arvensis.jpg
Tussilago_farfara

Tussilago farfara

Spergula_arvensis.jpg
Rumex_acetosella.jpg

Por sua vez, o margação (Anthemis arvensis) e a falsa-salsa (Aphanes arvensis) são indicadores de solos limosos, enquanto que a milhã-digitada (Digitaria sanguinalis) é indicadora de um terreno arenoso.

Anthemis_arvensis
Aphanes_arvensis_saint-fuscien_80_190520
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Por isso, antes de fazermos o controlo das infestantes, devemos olhar para elas com atenção! As plantas têm muito para nos dizer e há que aproveitar essa informação!

As Nossas Amigas Urtigas

Tendemos a evitar as urtigas devido às suas propriedades urticantes. No entanto, são plantas muito ricas e que têm muito para nos dar. No que respeita à agricultura, são excelentes para produzir fertilizantes para as nossas culturas: o chorume de urtigas. O elevado teor de azoto, sais minerais e oligoelementos funciona como um excelente estimulante na primavera. Ajuda a fortalecer jovens plântulas e plantas pouco viçosas, sendo também um bom aliado para fortalecer roseiras atacadas pela clorose. Para além disso, ajuda também as plantações a recuperarem das geadas.

 

Dependendo da época do ano, não se esqueça de calçar umas luvas antes de ir apanhar urtigas... Depois, a preparação do chorume é muito fácil: é só deixar macerar as urtigas em água, um processo que leva cerca de oito a dez dias. Deve-se macerar cerca de 1Kg de urtigas por 10L de água. O preparado deve ser bem misturado, de forma que todas as plantas fiquem submersas, e colocado numa zona de sombra, coberto com um pano, para evitar uma invasão de insectos. Esta mistura deve ser mexida uma vez por dia. Quando o fizerem, vão observar a libertação de pequenas bolhas de ar. Quando isso deixar de acontecer, o chorume está pronto a ser usado e deve ser usado o quanto antes (15 dias, máximo), ou vai apodrecer. Mas antes de ser utilizado, deve ser filtrado. 

 

O chorume diluído pode ser usado para adubar árvores de fruto. Na horta, para pulverizar plântulas ainda jovens e legumes, deve ser feita uma diluição de 5%. Pode ser usado para regar, mas, neste caso, façam uma diluição maior (10%).

 

O chorume que sobrar pode ser usado para reforçar o composto.

 

E outra coisa... As urtigas também nos podem servir como indicadores da fertilidade do solo... Onde aparecem, fertilidade garantida! Por isso, indicam-nos bons locais para plantar espécies mais exigentes como as couves ou as alfaces.

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