Lili, a Gatinha Brava
- Lili
- 19 de jan. de 2018
- 6 min de leitura

Olá! Eu sou a Lili e sou a última adição à Família da Quinta do Gato. Conseguem descobrir-me na foto?
Cheguei um dia depois do Zizu... Embora só o tenha conhecido bem mais tarde... Na verdade, da Família só ainda conheço dois elementos: o Zizu e a Dona. O Zizu é o meu companheiro de brincadeiras! Da Dona... ainda não decidi se gosto! Tem umas mãos terrivelmente assustadoras!!!! Sim, porque foram aquelas mãos que me agarraram pelo cachaço e me trouxeram para esta casa!... E eu não voltei a ver a minha mamã nem os meus manitos...
Mas vamos começar pelo início. Vocês sabem que nós, gatos, somos muito curiosos, não é? Lá dizem os ingleses: a curiosidade matou o gato... A minha ainda não me matou, mas confesso que já esteve lá perto...
Eu explico: quando eu nasci, aquilo de que eu mais gostava era de estar enroscadinha, no quentinho, com os manos e a mamã; de mamar e de dormir. Mas depois, eu e os manos começámos a abrir os olhos e vimos que havia mundo lá fora... fora da nossa toca... Mas como ainda tínhamos muito frio e arrastarmo-nos era muito cansativo, o quentinho da nossa mamã continuava a ser o melhor do mundo! O problema foi quando percebemos que conseguíamos andar... A mamã, às vezes, ficava desesperada! Cada um a caminhar para o seu lado... E lá andava ela muito atarefada a recolher-nos e levar-nos para o ninho... Mas nós fomos crescendo e fomo-nos tornando mais autónomos (mais uma vez, para grande desespero da mamã). E a curiosidade começou a ganhar terreno ao conforto do ninho... É que o mundo tem tantos cheiros e tantos sons!!! E tantos bichinhos para caçarmos!!!
E houve um dia em que saí com os manos para explorar as redondezas. Saímos em grupo. Aproveitámos que a mamã tinha saído e escapulimo-nos. Só ficaram os manos mais medricas! Mas a minha curiosidade era mais forte do que o medo... Não sei o que aconteceu... Fui atrás de um bichinho e, quando dei conta, estava sozinha no mundo... já não via nem ouvia nenhum dos manos... tentei encontrar o caminho para o ninho, mas nunca chegava lá! Comecei a ficar muito assustada... Às tantas ouvi um barulho assustador muito próximo de mim (hoje sei que eram cães a ladrar). Escondi-me num cantinho bem escurinho e lá fiquei, muito sossegadinha, para ver se os monstros barulhentos não me encontravam. Quando eles se calaram e me pareceu que as coisas estavam mais calmas, desatei a chamar pela mamã. Quando nós a chamávamos ela vinha logo a correr!! Mas a mamã não veio... Eu chamava, chamava e ninguém aparecia!... Não sabem o desespero e o medo que senti!!! Estava só num mundo imenso e assustador!!!!
Mas as coisas ainda ficaram mais assustadoras... Comecei a ouvir uns passos (muitos passos) que se aproximavam... E voltei a ficar muito quietinha... Eu acho que até deixei de respirar para ver se não me ouviam!... Mas, de repente, um dos monstros (Dinah) entrou no meu esconderijo!!!! Entrei em pânico! Não sabia o que fazer! Fujo? Luto? Finjo-me de morta? Em milésimas de segundo, tudo isso passou pela minha cabeça! O que faço? O que faço? E quando dei conta já tinha largado a correr e tinha saído do buraco!... E à minha frente estavam outros dois monstros (Duda e Nuri)! Um atrás, dois à frente... Tenho que os driblar... Corre para a direita, ziguezagueia para a esquerda... E foi quando ouvi outro monstro aos berros (Dona)... Quatro!!!! Estava perdida!!!! Mas não me rendi e tentei passar por baixo dos monstros de quatro patas!... Mas a Nuri apanhou-me... Eu estava cada vez mais assustada!!!! Fugir já não era solução... Parti para a luta e transformei-me num tufo de pelo preto cheio de garras e dentes! Estrebuchei, estrebuchei e consegui soltar-me!... Mas fui apanhado pela Duda!... A Dona berrou e a Duda largou-me e a Dinah parou, mas a Nuri continuava, com aquela boca enorme, atrás de mim! A Dona aproximou-se, ralhou-lhe e ela lá me largou e eu consegui fugir... Mas não tinha para onde... Fiquei encurralada contra a vedação... As cadelas continuavam lá, a olhar para mim... (mas, pelo menos, não me estavam a atacar...) Mas eu não tinha para onde fugir! A Dona estava a segurar a Nuri com uma mão, mas com a outra estava a tentar caçar-me! De cada vez que eu via aquela mão assustadora a aproximar-se, transformava-me numa bola de garras e dentes! Muitos dentes e muitas unhas!!! E a mão lá recuava... Estivemos nisto um bom bocado (uma eternidade!!!) e eu não estava mesmo a ver saída... E foi quando o cenário piorou outra vez... As cadelas até estavam mais calmas... Mas a segunda mão da Dona entrou em acção... E ora vinha uma mão pela frente (e eu tentava defender-me), ora vinha a outra por trás (e eu virava-me de pernas para o ar a espernear como se não houvesse amanhã), e não saíamos daquilo... Confesso que achei mesmo que não ia ver nascer um outro dia...
Houve um momento em que tive uma réstia de esperança... A Dona parecia ter desistido de me apanhar. Nem sequer estava a olhar para mim... Eu não despegava os olhos dela! E, pelo canto do olho, ia controlando a Duda e a Dinah, que não tiravam os olhos de mim... O que é que a Dona estaria a fazer? Enfiou umas coisas na mão (hoje sei que se chamam meias), pegou num pauzito, tentou atacar-me com o pauzito e, enquanto eu me defendia desta ameaça com unhas e dentes, a outra mão, implacável, agarrou-me pelo cachaço! Fui levada no ar, pelo cachaço, com as cadelas lá em baixo sempre com os olhos em mim... O meu fim tinha chegado!...
Ou talvez não...
A Dona entrou em casa e deixou as cadelas lá fora... Descemos umas escadas, entrámos num quarto muito escuro e a Dona enfiou-me numa caixa e deixou-me lá sozinha ao escuro. Finalmente tive tempo para respirar e avaliar a situação. Estava muito cansada, fechada, sem saída. Por isso, mais valia tentar recuperar forças... Mas sempre sem tirar os olhos da porta da caixa... A Dona voltou e trouxe-me água e comida. Devorei tudo quando ela se foi embora! Estava cheia de fome!
Passado um bocado, a Dona voltou com uma luz. Ficou um bocadinho a espreitar-me e voltou a ir embora. Fez isto muitas vezes. Sei hoje que estava a monitorizar-me para tentar perceber se eu tinha alguma lesão interna... Fui uma menina sortuda! Não tive nenhuma lesão. Aquelas três mostrengas não me ferraram o dente; não me magoaram!
Ao fim do dia, quando eu já estava mais calma, a Dona levou-me para um quartinho. Fechou a porta, mas, em vez de me poisar no chão com cuidado, abriu a porta da caixa, com a caixa ainda no ar, e sacudiu-me de lá para fora. Corri como se não houvesse amanhã!... O que me iria acontecer agora???? Mas não aconteceu nada... A Dona só queria ver como é que eu me movimentava, para ver se eu não teria partido nenhuma patita, ou se não teria dores... Mais uma vez, passei no teste! Da forma como eu me mexi... Fui mais rápida que o Speedy Gonzalez!!!!
E aquele passou a ser o meu quartinho. A Dona fez-me uma caminha quentinha na caixa e deixou-me mais comidinha e água, brinquedos e uma caixa com areia. E vinha visitar-me e conversar comigo várias vezes ao dia. E eu lá ficava muito quietinha, com os meus olhões muito abertos a olhar para ela... Depois começou a interagir comigo com uma caninha. Eu bem bufava à caninha, mas a Dona ignorava... A verdade é que quem ficava a ganhar era eu, pois na pontinha da cana vinha sempre uma guloseima... Mas eu fazia-me de difícil e só comia depois de a Dona ir embora... depois, começou a ser mais abusada e usava a caninha para me fazer festas na testa... Aquilo era muito assustador, mas, no final, lá vinha o bom... Acabei por me habituar.
Agora estou num quartinho novo, com mais luz e mais brinquedos! E a Dona fez-me um caixotinho novo, que eu adoro, com duas entradas. É lá que eu agora durmo.
Continua a vir visitar-me e conversa muito comigo. E, claro, dá-me um bom todos os dias, depois da nossa conversa e das festinhas com a caninha... mas aquelas mãos!... É mais forte do que eu! Quando as vejo mexer ainda não me sinto nada confortável... Por isso, não as deixo aproximar! A Dona ainda só me pôs a mão duas vezes. Sempre à falsa fé... Uma vez estava eu sedada no veterinário e na outra meteu a mão à socapa pela entrada de trás do meu ninho... Mas agora eu estou atenta... E quando a mão se aproxima do meu lombo, dou logo uma bufadela! Mas já tenho menos medo da Dona... Já apareço mais, já lambo os bons à frente dela... Vamos com calma! A última vez que fui imprudente, meti-me numa grande alhada. Por isso...



























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